quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Acará Bandeira

O Acará Bandeira (Pterophyllum scalare)

 
Origem 
O Acará Bandeira (Pterophyllum Scalare) é um peixe endêmico da Bacia Amazônica, onde habita rios e lagos, que possuem águas brandas, com leve correnteza, ácida, mole e de coloração ligeiramente escura - cor de chá. Vivem em cardumes, com aproximadamente quinze a trinta indivíduos, de diversos tamanhos que compartilham determinado trecho do rio onde existe, geralmente, um refúgio tipo uma grande raiz, uma árvore caída, galhos, vegetação, etc.

Alguns ribeirinhos costumam chamar os Acarás bandeiras de “pacu doido” ou “peixe louco”, tendo em vista que eles se assustam com facilidade e costumam saltar d’água quando escutam ruídos repentinos. Alguns nativos quando desejam capturá-los, ao localizarem um cardume, batem com os remos na água e alguns peixes costumam saltar e caírem dentro do barco em coma, sendo que se recuperam rapidamente.

Histórico 
O gênero Pterophyllum foi classificada em 1923, pelo naturalista alemão Lichtenstein, com o nome de Zeus scalaris. No ano de 1831, Cuvier e Valenciennes mudaram o seu nome para Platax scalaris; em 1840 o zoólogo alemão Johann Jacob Ernest Heckel mais uma vez mudou o nome daquela espécie para Pterophyllum scalaris e finalmente em 1862, Günther mudou para Pterophyllum scalare. Posteriormente, no ano de 1967 o Dr. Leonard. P. Shulttz, por solicitação do Museu Nacional dos Estados Unidos, efetuou uma revisão total do gênero em questão, sendo então, segundo Schulttz, o gênero Pterophyllum classificado em quatro espécies:
Pterophyllum scalare (o bandeira popular), Pterophyllum altum, Pterophyllum dumerilli e Pterophyllum leopoldi.

Neste artigo vamos nos deter, exclusivamente, na espécie Pterophyllum scalare, o bandeira popular.

Pterophyllum significa – literalmente – folha alada, ou pétala alada tendo em vista que este peixe efetua, na natureza, movimentos rápidos, parecendo que voa sob a água; scalare significa – literalmente – escada, em face da forma dentada em escalão dos raios duros de sua barbatana dorsal.

Os primeiros registros da introdução deste magnífico animal, em cativeiro, datam do ano de 1930, sendo que, inicialmente eram capturados aos milhares, e exportados para todos os centros de aquariofilia do mundo.
A partir de exemplares selvagens, criadores estrangeiros, principalmente do Japão, Estados Unidos, China e Alemanha, passaram a procriá-los em cativeiro, em escala comercial, diminuindo, consideravelmente, a quantidade dos peixes coletados na natureza.

O Acará Bandeira pertence à grande família dos ciclídeos, cuja característica mais marcante é que o casal, ao procriar, tem o hábito de proteger seus ovócitos e filhotes, oferecendo, assim, um belíssimo espetáculo para aqueles aquariofilistas que se dispõem a propiciarem condições para que procriem em seus aquários.

Manutenção 
Não é difícil manter Bandeiras em aquário comunitário desde que sejam observados alguns princípios básicos como a seguir descrevemos:

Aquisição - Será conveniente que o peixe adquirido esteja em excelente condição de saúde, portanto, deverão ser observados os seguintes parâmetros:
a) Deverão possuir cores brilhantes;
b) Os olhos deverão ser avermelhados;
c) Os sentidos deverão estar em alerta. Os acarás bandeira saudáveis geralmente ficam sempre na frente do aquário esperando comida e
d) Descarte aqueles que estiverem parados ao fundo, com suas cores pálidas, que possuam ferimentos, pontos ou manchas vermelhos ou brancos, nadadeiras roídas ou qualquer outra anomalia. 

A Quarentena 
Antes da introdução dos Acarás Bandeira, no aquário em que irá habitar com outros peixes, será importante que se faça à devida quarentena. Muitas vezes acreditamos que o animal apresenta boa condição de saúde, no entanto, pode estar hospedando agentes patogênicos, para os quais ele pode estar imunizado e que, entretanto, poderão infectar os outros habitantes do aquário. A quarentena deverá ser feita em um aquário próprio que, de preferência, não deverá conter substrato e plantas. Deverá ser usada filtragem ou aeração branda. Trocas de água com freqüência serão convenientes neste período. Um aquário de 50 cm x 30 cm x 30 cm – 45 litros poderá ser utilizado para quarentena de seis bandeiras de porte médio. Como o próprio nome diz o período de observação deve ser de quarenta dias, pois, após este tempo, a maioria dos agentes patogênicos, que por ventura possam estar hospedados naqueles peixes, por falta de um meio propício, geralmente serão extintos. 

No Aquário Comunitário 
Os Acarás Bandeiras na natureza vivem em cardume, portanto, se quisermos oferecer-lhes condições ótimas, em cativeiro, é aconselhável que se mantenha um pequeno grupo. Um único Acará bandeira, colocado junto com peixes de outras espécies, pode vir a tornar-se agressivo, por isso, recomendamos a manutenção de seis ou mais indivíduos.

O aquário onde serão mantidos os Acarás bandeira deverá ser decorado com plantas, pedras e troncos, pois, às vezes, eles procuram lugares para refugiarem-se ou até mesmo acasalarem-se. Por ser um peixe que pode crescer muito, e viver mais de cinco anos, recomendamos que o aquário para sua habitação possua no mínimo setenta e dois litros, nas medidas próximas de sessenta centímetros de comprimento, trinta centímetros de largura e quarenta centímetros de altura.

Caso deseje colocar com bandeiras outras espécies, sugerimos a inclusão de peixes compatíveis, isto é: aqueles que na natureza habitem o mesmo biótopo, por exemplo: Acará disco, néon cardinal, rhodostomus, corydoras, etc. 

A Água para os Acarás Bandeira 
A excelência da qualidade da água é fator fundamental para a manutenção dos Acarás bandeira, portanto, é muito importante que sejam feitas, periodicamente, substituições parciais; sugerimos a troca de um terço da água do aquário por duas ou mais vezes na semana, podendo chegar a serem feitas diariamente. Será conveniente que a água utilizada nas trocas possuam parâmetros físico-químicos próximos daquela já constante do aquário.

Parâmetros Físico-Químicos - Embora, na natureza, habitem mananciais onde os valores relativos a pH sejam baixos, podendo, em alguns rios chegar a 4.0 pH, tem-se observado que em cativeiro estes animais suportam variações relevantes de pH e de temperatura, porém, para a observância da sua melhor condição de saúde e conseqüentemente sua longevidade estes parâmetro devem ser mantido conforme segue: pH entre 6.4 a 6.8, temperatura entre 26 e 28ºC e dH entre 3.0 a 8.0.

Alimentação 
A alimentação é outro fator bastante importante que deve ser observado para a manutenção da desta espécie, não devemos oferecer rações de baixa qualidade ou que não conheçamos a procedência. Os Acarás bandeira são glutões e precisam ser bem alimentados, por isso, recomendamos um mínimo de três refeições diárias, variando, se possível, a cada uma delas. A seguir apresentamos uma relação de vários tipos de alimentos que poderão ser ministrados aos Acarás Bandeira: rações granuladas, rações flocadas, rações peletizadas; patês caseiros; artêmia viva ou congelada; larvas de mosquitos; minhocas de sangue desidratadas ou congeladas (blood worms); pequenas minhocas de jardim vivas; tubifex vivos, congelados, ou desidratados; enquitréias; raspas de coração de boi crú; raspas de camarão crú; raspas de fígado de boi cozido. 

Dimorfismo Sexual 
As características de diferenciação sexual entre os animais desta espécie não são fáceis de serem percebidas, principalmente naqueles que ainda não atingiram a maturidade sexual. A seguir vamos descrever alguns pontos que deverão ser apreciados para diferenciação entre machos e fêmeas:

a) Observando a cabeça -Na cabeça do macho, na parte que se situa em cima dos olhos, existe um volume (uma pequena protuberância), enquanto na fêmea este detalhe não é observado.

b) Observando a faixa negra - No macho, a primeira faixa negra vertical que fica situada em cima dos seus olhos é quase reta, enquanto na fêmea aquela faixa apresenta-se curva apontando na direção da barbatana dorsal. Este detalhe só poderá ser observado no acará nativo.

c) Observando as barbatanas - Na fêmea, o espaço que existe entre a barbatana ventral (em forma de filamentos) e o começo da barbatana anal é maior, enquanto no macho este espaço apresenta-se menor e mais fechado.

d) Observando a mandíbula - No macho, a mandíbula inferior é mais proeminente do que a mandíbula superior, enquanto na fêmea ocorre o contrário, a mandíbula superior ultrapassa ligeiramente a mandíbula inferior.

e) Observando os raios da barbatana dorsal -No macho, os raios situados no início da barbatana dorsal são maiores e em maior número do que na fêmea.

f) Observando o ovopositor - Por ocasião da desova o ovopositor na fêmea é maior, mais pontudo e dirigido para frente, enquanto no macho é menor e dirigido para trás.

Verificando os pontos acima parece muito fácil, porém, na prática, estes detalhes passam quase que despercebidos levando, muitas vezes, os mais experientes aquariofilistas a se enganarem.

A Reprodução do Acará Bandeira 
Existem algumas lendas que mencionam que os Acarás bandeira são casais perfeitos e monógamos, acrescentando, ainda, que se um dos parceiros morrer o outro se mantém “solteiro” para sempre. Na realidade, um casal de bandeiras pode se manter acasalado durante muito tempo, nadando e comendo junto e afastando agressivamente os outros integrantes do cardume, no entanto, se os separarmos por algum tempo eles acabarão aceitando outros parceiros.

É muito fácil obter sucesso na criação do Acará bandeira e, até mesmo, produzi-los em escala comercial, pois, um casal de reprodutores se mantidos corretamente poderão, produzir mais de mil filhotes num único mês.

A Formação De Reprodutores - Para iniciarmos um plantel de Acarás bandeira, para fins de reprodução, sugerimos a observância dos seguintes parâmetros: obtenção de um pequeno cardume; entre dez a quinze exemplares; com aproximadamente quatro a cinco meses de idade; num cardume devemos escolher os maiores e sem anomalias; de preferência que tenham nascidos em aquário, pois estes procriam com maior facilidade. Peixes nascidos e criados em tanques, principalmente aqueles de terra, têm mais dificuldades para procriarem em aquário.

A Formação dos Casais - Os peixes escolhidos deverão ser acondicionados num aquário espaçoso, se possível com cem ou mais litros, serem alimentados intensamente e as trocas periódicas de água deverão ser constantes.

Por volta dos nove a dez meses de idade começarão a mostrar os sinais da maturidade sexual com os conseqüentes rituais de acasalamento. Este ritual se inicia com escaramuças e corridas, mordidas boca com boca, etc, até que os pares irão se formando - peixes que comerem juntos, nadarem juntos e não admitirem à presença de outros, geralmente constituem-se num casal e poderão ser separados para procriarem.

O Aquário Para Reprodução - O casal formado deverá ser acondicionado num aquário para procriação que não deverá possuir nada além da água, um filtro interno - tipo de espuma e um pedaço de cano de pvc, de 1/2 polegada, que será colocado inclinado num dos cantos para receber a desova. Recomendamos que este aquário tenha um mínimo de setenta e dois litros, pois a quantidade de filhotes que irá nascer poderá ser muito grande, e um aquário pequeno poderá comprometer o sucesso da operação.

A Desova - O ritual começa com a limpeza do tubo de pvc (receptáculo de desova) ali o casal passa várias horas podendo chegar a dias. No ventre da fêmea poderá ser observada uma protuberância, tipo um pequenino tubo, chamado de ovopositor, que ela passará sobre o cano de pvc, depositando assim os seus ovócitos que ficarão aderidos. O macho, logo em seguida passará sobre eles também o seu ovopositor depositando o sêmen efetuando assim a fecundação. Este ritual pode durar mais de uma hora, sendo maior o tempo quando os exemplares são mais velhos, onde o número de ovócitos é bem maior, podendo chegar a mais de mil numa única postura.

O casal permanecerá junto aos ovócitos movimentando a água com suas nadadeiras bem próximas e tirando aqueles que fungam. A eclosão ocorre, geralmente, entre vinte quatro a quarenta e oito horas, dependendo da variedade e da temperatura da água. Após a eclosão os recém nascidos permanecem grudados ao cano durante dois a cinco dias dependendo da espécie e da temperatura da água.

Após este período soltar-se-ão e passarão a nadar acompanhado pelos pais que se desdobram na sua vigilância. É comum o casal apanharem com a boca alguns filhotes, desgarrados e depois soltarem junto aos demais. Às vezes, o casal junta todo a prole num determinado local, principalmente ao cair da noite, para que não se extraviem.

Podem ser observados, também, casos em que o casal de reprodutores transfere todos os ovócitos ou alevinos do local de postura inicial, para outro, geralmente menos visível, acreditamos este procedimento que seja com a intenção de resguardá-los.

A Criação Artificial dos Alevinos -Na criação comercial, quando se deseja produzir um grande número de peixes, pode-se adotar a criação artificial dos alevinos.

Como fazer:
Após a desova, aguarda-se aproximadamente duas horas e retira-se o receptáculo de desova (o tubo de pvc com os ovócitos aderidos). Este tubo deve ser colocado num aquário previamente preparado, que deve conter os mesmos parâmetros físico-químicos daquele onde foi efetuada a desova. A água deve ser mantida a uma temperatura próxima dos vinte e oito graus e deve ser adicionado um fungicida em dose preventiva.

Este processo permite que o casal de reprodutores num breve espaço de tempo inicie outra postura; alguns casais chegam a ter novas posturas a cada sete dias.

A Manutenção Dos Alevinos - A partir do primeiro dia em que os alevinos estiverem nadando, é necessário alimentá-los, sendo que nesta fase a alimentação constitui fator essencial para a sua sobrevivência, bem como para a formação de animais de qualidade.

A seguir apresentamos o procedimento que deverá ser observado para a correta alimentação dos alevinos: o primeiro ao décimo dia - três alimentações diárias, sendo duas a base de náuplios de artêmia salina (recém eclodidos) e uma a base de microvermes; o décimo primeiro ao trigésimo dia - à dieta anterior poderá ser acrescentado enquitréias e dáfnias podendo aumentar o número de refeição para até cinco vezes ao dia; quando estiverem com trinta dias de idade, então poderá ser introduzida a mesma alimentação dos peixes adultos, gradativamente, inicialmente em pequenas quantidades até que se acostumem e possa ser retirada a alimentação de alevinos.

Cuidados com os Alevinos - Na faze de alevinagem a atenção deve ser redobrada: as trocas de água, bem como a sifonagem de sobras de alimentos e excreção dos peixes, deverão ser feitas com freqüência, pois a grande quantidade de alevinos, comendo e excretando constantemente poderão levar o teor de amônia a níveis críticos. 

Sugerimos a utilização uma mangueira fina e muita paciência afim de que os alevinos não sejam sugados. Se houver filtros externos deverão ter a sua capacidade diminuída e se possível os canos de sucção protegidos com acrilom ou outro material filtrante a fim de evitar que os alevinos sejam sugados para o seu interior.

Como as desovas de Acará bandeira costumam render um número elevado de filhotes, sugerimos dividi-los em vários aquários, colocando um máximo de cinqüenta peixinhos por aquário, observando um mínimo de dois litros d’água para cada peixe.

O crescimento dos alevinos, bem como a performance do futuro peixe, será proporcional ao tamanho do aquário, ao número de trocas de água e a qualidade da alimentação, portanto, à medida que forem crescendo será conveniente que sejam transferidos para aquários compatíveis.

A manutenção de uma quantidade excessiva de peixes, crescendo em meio saturado, irá gerar animais raquíticos, com deformidades e sem nenhum valor comercial.

               

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